Foi lançado no dia 24 de abril, pela Editora do IFSul, o livro “IFSul Nossa História: percepções da comunidade acadêmica”, uma coletânea de textos que celebram a trajetória e a diversidade das experiências vividas dentro da instituição.
Um dos destaques da obra é o texto assinado pelo professor Eliézer dos Santos Oliveira, do campus Santana do Livramento, intitulado “Cursos doble-chapas: reflexões inspiradas pela cristologia”. O capítulo, que vai da página 25 até a 32, está disponível gratuitamente para leitura e download no site da editora:
http://omp.ifsul.edu.br/index.php/portaleditoraifsul/catalog/book/305
Misturando filosofia medieval, teologia cristã e um profundo conhecimento da realidade local, Eliézer propõe um olhar inédito sobre a vivência na Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul e do Norte uruguaio. Usando o conceito teológico da “dupla natureza” de Cristo — ao mesmo tempo humana e divina — como metáfora, o autor reflete sobre o cotidiano do chamado “doble chapa”: o cidadão que carrega em si duas identidades, brasileira e uruguaia, convivendo de forma integrada entre Sant’Ana do Livramento e Rivera.
O texto, que o próprio autor define como uma “quase-teologia de galpão”, é uma crônica que combina humor, sensibilidade e crítica social. Nele, conceitos como “união hipostática” ganham contornos regionais e ganham vida na forma dos cursos binacionais oferecidos por meio da parceria entre o IFSul e as instituições uruguaias UTU e UTEC.
“Se até os cemitérios na Fronteira são binacionais, por que a educação também não deveria ser?”, questiona o professor em um dos trechos. E responde com uma defesa apaixonada pelos cursos doble-chapas, que formam estudantes com diplomas válidos nos dois países, reforçando a integração e o pertencimento duplo dos jovens fronteiriços.
A metáfora se torna mais que literária: torna-se política, educativa e identitária. Eliézer sugere que viver na Fronteira é mais do que atravessar uma linha imaginária — é ser atravessado por ela, todos os dias. E, nesse sentido, os cursos binacionais aparecem como “mediadores” entre duas culturas, tal como Cristo é, para os cristãos, mediador entre o humano e o divino.
O texto é uma leitura obrigatória para quem vive na Fronteira da Paz ou deseja compreender a riqueza de uma identidade que desborda fronteiras geográficas. Com poesia, erudição e raízes fincadas no cotidiano, Eliézer dos Santos Oliveira oferece ao leitor muito mais que uma reflexão sobre educação: oferece um convite à travessia.
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