O câncer tem uma relação direta com o envelhecimento, e a estimativa da American Cancer Society e do Instituto Nacional de Câncer (Inca) é que cerca de 60% das pessoas diagnosticadas com alguma neoplasia são idosas, por isso a importância de adotar práticas que possam contribuir para o bem-estar nessa jornada de cuidados.
“Diversas evidências científicas têm demonstrado que idosos sob tratamento oncológico tiveram melhora na qualidade de vida e alívio de alguns efeitos colaterais dos medicamentos após 12 semanas cumprindo uma rotina de atividade física moderada”, afirma o oncologista clínico e responsável técnico do Instituto Kaplan/Oncoclínicas em Uruguaiana, Tiago Giordani Camícia. Na última reunião da ASCO, este ano em Chicago, o médico oncologista. Paulo Bergerot, da Oncoclínicas&Co apresentou estudo mostrando os benefícios dessa prática.
As doenças oncológicas mais prevalentes na faixa com 60 anos ou mais são: câncer de mama em mulheres, de próstata em homens, de intestino e de pulmão em ambos os sexos. “Muitos pacientes poderão receber os mesmos tratamentos que os mais jovens. Porém, é importante uma avaliação geriátrica ampla, levando em conta as comorbidades existentes, grau de autonomia, capacidade para realizar atividades sem auxílio, perfil nutricional, entre outros fatores”, afirma Tiago Camícia.
De acordo com o especialista, atualmente a recomendação dos protocolos internacionais de atividade física para essas pessoas é de 150 minutos por semana, no mínimo, com moderada intensidade, supervisionados por um profissional e individualizado para cada caso. “A prática de exercícios físicos é fundamental para melhorar a funcionalidade de idosos. O tratamento com quimioterapia pode gerar efeitos negativos sobre a massa muscular e força física, aumentando a fragilidade e reduzindo a funcionalidade dos pacientes idosos”, pondera.
Práticas de prevenção
Tiago Camícia informa que a literatura científica demonstra que programas com foco no ganho progressivo de força muscular e treino de equilíbrio, também auxiliam na prevenção de quedas. Já os planos com atividades aeróbicas regulares geram benefícios cardiorrespiratórios. “Em geral, as rotinas devem incluir práticas aeróbicas, como caminhadas que podem ocorrer até mesmo dentro de casa, e exercícios de força e resistência muscular, preferencialmente. Estas atividades demonstram serem eficazes na redução da fadiga oncológica, gerando uma sensação de bem-estar e melhora do humor e da cognição”. O oncologista considera que é importante desmistificar a ideia de que os idosos em tratamento oncológico devem ficar em repouso. “As evidências científicas têm demonstrado exatamente o contrário. A atividade física melhora a qualidade de vida dos pacientes e sua autonomia”, destaca. Além disso, os benefícios são observados especialmente em relação à fadiga, à falta de apetite, à depressão e à ansiedade, e também para evitar a perda de peso durante a terapêutica.
Estudo mostra eficácia da estratégia
O médico oncologista Paulo Bergerot, da Oncoclínicas&Co, vem desenvolvendo uma linha de pesquisa no grupo Oncoclínicas que analisa os benefícios da atividade física. Seguindo as diretrizes atualizadas da American College of Sports Medicine, os trabalhos envolvem pacientes que iniciam tratamento sistêmico (quimioterapia, imunoterapia ou terapias-alvo) para câncer avançado ou metastático. Em 2023, os resultados do estudo-piloto foram apresentados no congresso anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO). Foram incluídos 40 indivíduos com qualquer tipo de tumor sólido em tratamento com imunoterapia e eles participaram de um programa individualizado de exercícios de 12 semanas, com assistência remota (via telemedicina) de um preparador físico especializado. O objetivo foi avaliar a viabilidade e aceitabilidade do método proposto, que foi significativo, bem como a repercussão na qualidade de vida e nas reações colaterais específicas da imunoterapia, com dados também positivos.
Na ASCO de 2024, em Chicago, foi a vez de apresentar a continuação desta linha de estudos, agora com 41 pacientes, com idade média de 70 anos, em uma jornada com exercícios de resistência (ganho de massa muscular) e aeróbicos, com intensidade progressiva e prescritos individualmente, respeitando as particularidades e limitações de cada paciente. O estudo com supervisão profissional remota teve duração de três a cinco horas semanais (quatro a seis dias por semana). Os tipos de câncer mais comuns foram mama (26,8%), geniturinário (22,0%) e pulmão (17,1%), todos em estágios avançados. Foi observado um aumento significativo na qualidade de vida (pela escala FACT-G) e a redução de sintomas que frequentemente tem reflexos no tratamento oncológico, como dor, fadiga, náusea, depressão e ansiedade. Um fato bastante estudado, e que foi significativamente positivo – embora a princípio pareça contraditório – é o benefício sobre a fadiga oncológica, corroborando o crescente conhecimento de que a prática de exercícios pode ser uma estratégia eficaz não apenas para melhorar o bem-estar geral, mas também para minimizar os sintomas adversos associados ao tratamento oncológico.
Comentários